Amar e Acolher

Formação em Educação Parental

A importância da empatia nas relações (familiares)

No dia a dia da minha prática profissional e até mesmo na minha vida pessoal, vou me confrontando com dificuldades de gestão e resolução de conflitos, sendo esta dificuldades demasiadas vezes potenciadas pela falta de empatia. Parece uma competência tão basilar e óbvia, mas porque não a colocamos em prática nos momentos em que esta é mais necessária?!

Neste texto pretendo abordar a aplicabilidade da empatia na prática diária das famílias.

Uma das questões mais importantes quando trabalho com famílias, passa por compreender e reforçar as relações que os diferentes elementos têm entre si, principalmente nas relações de parentalidade. As competências relacionais que cada um tem (ou não), são as que sustentam esta ligação, sendo fundamentais para que a conexão aconteça, para que a comunicação flua e para que aumentemos a satisfação com a qualidade da relação e, por conseguinte, do bem estar da família.

A empatia enquadra-se nessas competências fundamentais e deve, sempre que possível, ser colocada em prática, tanto no contexto familiar como em qualquer outro contexto, seja este profissional, escolar, social..

A forma empática como ouvimos e falamos, implica colocarmo-nos no lugar do outro, compreendendo o que o outro está a expressar e a sentir e dando-lhe um feedback construtivo para que perceba que estamos efetivamente a compreendê-lo adequadamente. Só assim conseguimos proporcionar um espaço de diálogo construtivo e cooperativo, que permitirá que os todos envolvidos se sintam legitimados e consigam identificar e assumir as suas emoções e sentimentos de forma consciente e genuína.

Como colocar isto na prática no dia a dia, apresenta-se um verdadeiro desafio, contudo neste texto iremos perceber que talvez não seja assim um desafio tão grande…

Não se trata de receitas milagrosas ou de técnicas infalíveis, mas sim de orientações e dicas que espero que funcionem como reflexão e sinais de alerta para (re)pensarmos as nossas ações e intervenções.

Vamos ver exemplos práticos?

Imaginemos uma criança que se sente desconfiada, tímida e/ou receosa em partilhar as suas experiências e sentimentos. Como poderemos abordar esta criança?

  • Parece-me que está difícil para ti contar-me o que aconteceu/como te sentes… Talvez queiras contar-me noutro momento, ou podes contar-me aos poucos, por partes.

Ou

  • Queres dizer uma única palavra para descrever como te sentes ou mostrar-me uma imagem que reflita o teu estado de ânimo? Se calhar torna-se mais fácil.

Ou

  • Talvez não te sintas confortável para falar sobre ti, mas quero que saibas que podes fazê-lo e que eu irei ouvir-te com toda a atenção e sem julgar o que me vais contar.

Se a criança (C) estiver emocionalmente alterada, verbalizando emoções e sentimentos desagradáveis, ao invés do tradicional sermão do adulto (A) (seja este sermão de reprovação ou até mesmo um sermão de compaixão/solidariedade), é mais produtivo para o crescimento, aprendizagem e desenvolvimento da criança se o diálogo decorrer desta forma:

  • C: Estou furioso. Apetece-me mandar toda a gente dar uma curva.

A: Estás a sentir fúria e não estás interessado em saber de ninguém neste momento, é isso?

  • C: Dá-me raiva e tristeza pensar nisto… Apetece-me chorar, mas não posso….

A: Se bem percebi, estás furioso e triste ao mesmo tempo… Apetece-te chorar, mas algo te está a impedir.

  • C: Estou farto e não quero falar…

A: Compreendo que estejas cansado desta situação e que isso te tira a vontade de falar…

  • C: Não tinhas nada que ir fazer queixinhas de mim ao treinador… Ao menos dizias-me primeiro.

P: Percebo que estejas zangado comigo porque achas que fui injusto contigo e porque sentes que traí a tua confiança.

Em nenhum destes comentários percebemos existir uma postura de valoração ou de interpretação. No entanto, pela vontade que temos de instruir no melhor comportamento a adotar e de ensinar como se faz, demasiadas vezes optamos por comentários de valoração (certo/errado; culpado/inocente; bem/mal) ou com frases feitas, que em nada contribuem para um diálogo consciente, construtivo e cooperativo.

Vamos ver os exemplos que se seguem. Se optássemos por estes comentários que se seguem, quais seriam as reações da criança? O que esta sentiria?

  • Lá estás tu outra vez com essas parvoíces. (juízo de valor)

  • Sossega, tem lá calma, para de chorar. (distanciamento; conselho universal – não personalizado)

  • Não é possível, não acredito que tenhas ficado triste com uma coisa destas. (negação dos sentimentos do outro)

  • Também não era preciso uma reação tão exagerada. (desvalorização)

  • Já estás farto de saber que não podes ter esses comportamentos. Pareces um bebé. (diminuição; humilhação)

  • Isso também já me aconteceu, mas tive essa reação, reagi de outra forma. Fiz x… (mudança de foco, de assunto e de protagonista)

Conseguiram identificar as mensagens subliminares (a negrito) que passamos com os comentários referidos? Como se sentiram ao identificar essas mensagens entrelinhas dos comentários? Como se sentiriam se estivessem do outro lado a ouvir estes comentários que não são centrados em vocês e naquilo que efetivamente vos preocupa?

Outras abordagens muito comuns também passam por respostas/comentários de avaliação e/ou aprovação, de rotulação, de um questionamento quase inquisitório (Como? Porquê? Quando? Quem?), de sermões moralizadores ou de geração, entre outras…

Não quero dizer que estas abordagens estão erradas, contudo com estas respostas que utilizamos habitualmente e quase de forma automatizada, não conseguimos criar um espaço de comunicação onde o outro se sinta verdadeiramente compreendido, legitimado, respeitado, acolhido e acompanhado. Não nos centramos no outro, mas sim na nossa realidade subjetiva (com os nossos quadros de referência internos), que criamos à volta do tema que o outro nos apresenta e que pode não ter nenhuma semelhança com a realidade subjetiva do outro.

Não se trata de optar por um estilo permissivo ou facilitador no que diz respeito à gestão da parentalidade, mas se queremos promover momentos de crescimento, aprendizagem, autoconhecimento e reflexão nas nossas crianças e jovens, ambicionado que estes se tornem adultos solidários, cooperativos e assertivos, devemos apresentar-lhes essas ferramentas através da modelagem, isto é, servindo de exemplo de forma consistente e contínua. As crianças e jovens aprendem, nós também e as relações familiares ficam a ganhar, saindo destes momentos mais fortalecidas.

Faz sentido?

A empatia é das ferramentas mais potenciadores e facilitadoras da relação. Vamos fazer uso dela!

MÓNICA NOGUEIRA SOARES​

MÓNICA NOGUEIRA SOARES​

Psicóloga, docente universitária, educadora emocional e mediadora escolar e familiar, atuando desde 2006 na área da psicologia e da educação. Concilia na sua atividade as diferentes áreas de especialização, no sentido da criação de condições para a promoção de aprendizagens formais e informais de estratégias de autonomia, de desenvolvimento e de crescimento nas formas de pensar, ser e agir dos diversos intervenientes (crianças e jovens, famílias e docentes). É doutorada em psicologia e aluna da “Jornada das Emoções”.

4 respostas

  1. Que texto importante a ser lido pelas famílias Mónica, Parabéns!!O quanto é valioso conhecermos e praticar a Empatia nas nossas relações familiares.
    Obrigada pela contribuição!!!!

  2. Quantas coisas podemos refletir no texto, em especial observar a forma que nos comunicamos, entender o que está acontecendo e por que se comunica dessa forma é muito precioso. Ver que a forma que estamos é a forma que nos comunicamos. Maravilha de texto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *