Amar e Acolher

Formação em Educação Parental

O adolescente e seus dilemas

Como conduzir essa fase com uma relação respeitosa

Nossos filhos devem ser aceitos como indivíduos, com direitos próprios, e as diferenças devem ser respeitadas e estimuladas. Os filhos crescem melhor quando amados pelo que são, não por aquilo que alguém imagina que eles deveriam ser.”

Anthony Storr

Quando comecei a estudar sobre adolescência mergulhei a fundo sobre esse universo que tanto me atrai e tive o reencontro com a adolescente que fui e ainda vive em mim e foi maravilhoso entende-la, foi libertador saber que tudo aquilo que vivi e senti de alguma forma, naquele contexto, fazia sentido. Falo das grandes mudanças que acontecem quando a adolescência chega e de tudo que temos que lidar nesse universo paralelo em que passamos a viver e aos dilemas que nos acompanham por muito tempo. Sabe aquela ambiguidade de tratamento? “Você é muito criança para entender isso” ou “Você já é grande, deveria saber o que está fazendo”. Pois é, escrevo esse texto pelo qual gostaria muito que meus pais tivessem lido quando eu era adolescente.

Quando uma criança entra na fase da adolescência muitos dilemas começam a fazer parte a vida deles e culturalmente achamos que eles dão conta de tudo, que eles já são crescidinhos para entender muita coisa e que o drama é totalmente desnecessário. A verdade é que é normal que esses adolescentes flutuem entre comportamentos adultos e infantis, entre agir com responsabilidade e de modo irresponsável, entre bater de frente com a autoridade dos pais em um momento e ser totalmente dependente deles em outro. Por isso esse período se torna tão difícil para os pais e para os próprios adolescentes, porque vivem em uma confusão entre o momento de agir com rigor e o momento de deixar que o jovem tome a decisão. Por isso a importância da comunicação respeitosa e mutua e da clareza dos valores da família. Embora não haja uma formula mágica, algumas sugestões podem ser uteis para os pais que se preocupam em tornar essa fase menos tumultuada.

A primeira delas é entender que nessa fase o adolescente age muito pelo emocional, porque seu lado racional está em desenvolvimento. É como se o cérebro estivesse em “formatação”, apagando o desnecessário para ter espaço para o novo, por isso o sono excessivo, a tendência a se envolver em perigo, a intensidade das emoções, a falta de atenção dentre outras coisas.

 

Nessa fase é importante que os limites sejam estabelecidos e preferencialmente com a participação dos adolescentes, eles têm a necessidade de se sentirem pertencidos, na verdade todos nós temos né, e esteja seguro das suas ações, porque embora não pareça os adolescentes necessitam saber que os pais têm certeza do que querem.

    • Tenham uma escuta ativa esteja presente quando eles precisarem conversar e saiba que na maioria das vezes ele não vai te procurar, por isso tenha um olhar mais atento às mudanças de humor e comportamento e se mostre disposto a ajudar. Tenha cuidado com julgamentos, os adolescentes correm de olhares julgadores, mostre empatia pelo que ele está sentindo, acredite é real o que eles sentem e cá pra nós, ninguém gosta de conversar com alguém que julga muito não é mesmo? Isso não quer dizer que você deva concordar com tudo que o jovem disser, mas é importante entender o sentimento dele. Porém, não espere ser o grande confidente do seu filho adolescente, ele pode preferir conversar com um amigo ou até mesmo com outro adulto e está tudo bem, desde que esse seja confiável.

    • Reveja seu próprio comportamento em relação aos jovens, dê bons exemplos, cuide de você, do seu stress, se não colocamos nossa máscara de oxigênio primeiro, morrem dois.

    • Dê abertura para seu filho falar sobre qualquer assunto, mesmo que você tenha opinião diferente, escute com respeito. Os adolescentes gostam de testar nosso ponto de vista, então dê sua opinião honestamente e com calma.

    • Não coloque expectativas altas demais em relação a ele, principalmente no que diz respeito a escolha da profissão. Cobranças em excesso podem desencadear quadros de ansiedade, insegurança e até depressão. Mais importante do que cobrar um bom resultado no ENEM é instigar a vontade dele de ser bem-sucedido nas suas escolhas. Ele não é um adulto amadurecido, é um adolescente e age de acordo com sua própria idade.

 

Posso afirmar por experiência própria de ambos os lados, tanto quanto filha adolescente que fui quanto como mãe de adolescente – no final da adolescência o relacionamento com os filhos muda de maneira muito positiva em vários aspectos e aceitar que seus filhos e os amigos deles pode ter muito a ensinar pode ser um marco para o relacionamento saudável.

Acho que o momento em que percebi que meu filho, hoje com 26 anos, tinha crescido foi quando me peguei escutando seus conselhos e o mais gratificante disso é escutá-lo dizer: isso eu aprendi com você e ele me ensina muito mais do que possa imaginar. Estou entrando novamente nesse mundo adolescente com meu segundo filho de 12 anos e o terceiro com 9 anos, se me sinto 100% (cem por cento) preparada? Não, mas sigo minha busca em ser uma mãe melhor todos os dias.

Lembre-se, não existe um método infalível para criar um filho, nem verdades absolutas, não é como uma receita de bolo. O importante é estarmos abertos a buscar sermos cada dia pais e mães mais conscientes na nossa parentalidade.

Tatiane Amorim

Tatiane Amorim

CEO da casa de brincar - Casa da Dinda
Educadora parental
Facilitadora do método Jornada das Emoções Kids e Teen - Amar & Acolher

Orientando famílias na busca de uma relação respeitosa através da Educação emocional.

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6 respostas

  1. Eu li o texto e ouvi sua voz ao meu lado, que leitura inteligente e gratificante, em alguns parágrafos me sentia vivendo aquele momento. Essa mudança de fase, eu particularmente me senti muito estranha, a palavra certa que vc mesma usou “confusa”, os sentimentos eram milhões, uns bons outros ruins, tentando me encaixar no lugar certo, as vezes não me cabia. Adolescência precisa realmente ser compreendida para passar por ela feliz. Tenho 29 anos. Agradeço seu relato.

    1. Ahh que lindeza. É tão importante ressignificar tudo que vivemos não é mesmo? Que bom que gostou, minha querida!

  2. Tati, o texto é simplesmente perfeito e nescessário, minha sobrinha está quase nessa idade da adolescência, e vejo que algumas coisas que aprendi com você e boto em prática com ela, super funciona, então sou grata de mais por esse texto. Grande abraço.

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